quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Apóstolo


A palavra apóstolo pode ser usada em um sentido amplo ou restrito. Em sentido amplo, ela significa “mensageiro” ou “missionário pioneiro”. Mas em sentido restrito, que é o mais comum no Novo Testamento, refere-se a um ofício específico, “apóstolo de Jesus Cristo”. Esses apóstolos tinham autoridade única para fundar e liderar a igreja primitiva e podiam falar e escrever a palavra de Deus. Muitas de suas palavras escritas tornaram-se as Escrituras do Novo Testamento.
Para se qualificar como apóstolo era preciso: (1) ter visto com os próprios olhos o Cristo ressurreto e (2) ter sido designado apóstolo pelo próprio Cristo. Houve um número limitado de apóstolos, talvez quinze ou dezesseis, ou alguns mais – o Novo Testamento não é explícito sobre o número. [...] Parece que nenhum apóstolo foi designado depois de Paulo e, certamente, já que ninguém hoje pode preencher o requisito de ter visto o Cristo ressurreto com os próprios olhos, não há apóstolos hoje. [...]
Embora alguns hoje usem a palavra apóstolo para referir-se a fundadores de igrejas e evangelistas, isso não parece apropriado e proveitoso, porque simplesmente confunde quem lê o Novo Testamento e vê a grande autoridade ali atribuída ao ofício de “apóstolo”. [...] Se alguns, nos tempos modernos, querem atribuir a si o título de “apóstolo”, logo levantam a suspeita de que são motivados por um orgulho impróprio e por desejos de auto-exaltação, além de excessiva ambição e desejo de ter na igreja mais autoridade do que qualquer outra pessoa deve corretamente ter.
Wayne Grudem, Teologia Sistemática (p. 764).

No contexto mais amplo do Novo Testamento, fica claro que outros além dos apóstolos realizavam milagres, como Estevão (At 6,8), Filipe (At 8,6-7), cristãos das várias igrejas da Galácia (Gl 3,5) e pessoas agraciadas com dons de “milagres” no corpo de Cristo em geral (1Co 12,10;28). Os milagres, como tais, não podem ser considerados sinais exclusivamente dos apóstolos. Na verdade, os “operadores de milagres” e os agraciados com os “dons de cura” são de fato distinguidos dos “apóstolos” em 1Coríntios 12,28: “A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, dons de curar…” [...]
O argumento de que muitos outros cristãos do Novo Testamento operavam milagres é às vezes rebatido pela alegação de que somente os apóstolos e os que eram muito ligados a eles, ou aqueles em quem os apóstolos impunham as mãos, é que operavam milagres. Contudo, isso na verdade prova bem pouca coisa, pois a história da igreja do Novo Testamento é a história daquilo que se fez por meio dos apóstolos e das pessoas intimamente ligadas a eles. Pode-se formular argumento semelhante sobre a evangelização e sobre a fundação de igrejas: “No Novo Testamento, as igrejas só eram fundadas pelos apóstolos ou por pessoas muito ligadas a eles; portanto, não devemos fundar igrejas hoje”.
Wayne Grudem, Teologia Sistemática (p. 294).

sábado, 26 de novembro de 2011

Irmãos Morávios (Uma história sobre Missões)

A concepção de missões dos Morávios eram unicas, temos o exemplo da história de dois jovens Moravianos, conta a história que esses jovens, cerca de 20 anos de idade ouviram sobre uma ilha no Leste da India onde 3000 africanos trabalhavam como escravo e cujo dono era um Britânico agricultor e ateu. Esses jovens fizeram contato com o dono da ilha e perguntaram se poderiam ir para lá como missionários, a resposta do dono foi imediata: ” Nenhum pregador e nenhum clérico chegaria a essa ilha para falar sobre essa coisa sem sentido”. Então eles voltaram a orar e fizeram uma nova proposta: “E se fossemos a sua ilha como seus escravos para sempre?”, o homem disse que aceitaria, mas não pagaria nem mesmo o tranposte deles. Então os jovens usaram o valor de sua propria venda para custiar sua viagem.

No dia da partida para ilha, as famílias estavam reunidas no porto para se despedirem dos jovens. Houve orações choros e abraços, amigos e familiares puderam dar o último adeus para seus irmãos. E algumas pessoas falaram: porque vocês estão fazendo isso? Vocês nunca mais irão ver seus familiares e amigos, e vão ser escravos para o resto de suas vidas! Mas quando o barco estava se afastando do porto os dois jovens levantaram suas mãos e declararam em voz alta: "para que o Cordeiro que foi imolado receba a recompensa por seu sacrifício através das nossas vidas".

A Igreja dos Irmãos Morávios continua ativa hoje, mas seu legado é visto também em outras denominações. John Wesley foi grandemente influenciado pelos morávios e incorporou algumas de suas preocupações ao movimento metodista. William Carey, muitas vezes considerado o pai das missões modernas, estava, na verdade, seguindo os passos dos missionários morávios. “Vejam o que os morávios fizeram”, comentou ele em determinada ocasião. “Será que não poderíamos seguir seu exemplo e, em obediência a nosso Mestre Celestial, ir ao mundo e pregar o evangelho aos incrédulos”?

sábado, 25 de junho de 2011

Os Dois Lobos


Joãozinho procurou seu avô para dizer que havia sido injustiçado por um amigo e estava com muita raiva dele:

- Deixe-me contar-lhe uma historia – disse o avô – Eu mesmo, algumas vezes, senti muito ódio daqueles que de alguma maneira me fizeram mal na vida, mas acabei descobrindo que o ódio na verdade me corroia em vez de ferir o outro. Era como tomar veneno, desejando que a outra pessoa morresse.
Joãozinho estava atento às palavras de seu avô, que continuou:

- Lutei muitas vezes contra meus sentimentos. Era como se existissem dois lobos dentro do meu coração. Um deles era bom, justo, não magoava, vivia em harmonia com todos ao seu redor, e não se ofendia quando não havia intenção de ofender. Ele só lutava quando julgava certo fazer isto, e o fazia da maneira correta. Mas, o outro lobo, ah! este era cheio de raiva. Mesmo as pequeninas coisas o lançavam num ataque de ira! Ele brigava com todos sem qualquer motivo. Sua raiva era tão grande que ele não conseguia nem pensar direito. Era uma raiva inútil, pois ela não iria mudar coisa alguma! Algumas vezes era difícil conviver com estes dois lobos dentro de mim, pois ambos tentavam dominar o meu coração.

Joãozinho olhou intensamente nos olhos de seu avô e perguntou:

- E qual deles venceu, vovô?

O avô sorriu e respondeu carinhosamente:

- Aquele que eu mais alimentei.

Queridos amigos!! Que possamos refletir com essa história e tentar alimentar o nosso melhor lobo. Claro que é difícil muitas vezes não nos magoarmos com determinadas atitudes, mas pense que o ódio não irá afetar a pessoa que lhe fez mal e só lhe prejudicará. Amigos!! as pessoas que agem com arrogância, prepotência, enfim, que nos magoam por que gostam terão a sua hora de pagamento e não dependerá de nós. Cabe a nós aprendermos a controlar nossas emoções e fazer esse bem ao nosso ser. E vocês amigos qual lobo pretendem alimentar?

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Nossos Dias Melhores Nunca Virão?

por Arnaldo Jabor

Ando em crise, numa boa, nada de grave. Mas, ando em crise com o tempo. Que estranho "presente" é este que vivemos hoje, correndo sempre por nada, como se o tempo tivesse ficado mais rápido do que a vida, como se nossos músculos, ossos e sangue estivessem correndo atrás de um tempo mais rápido.

As utopias liberais do século 20 diziam que teríamos mais ócio, mais paz com a tecnologia. Acontece que a tecnologia não está aí para distribuir sossego, mas para incrementar competição e produtividade, não só das empresas, mas a produtividade dos humanos, dos corpos. Tudo sugere velocidade, urgência, nossa vida está sempre aquém de alguma tarefa. A tecnologia nos enfiou uma lógica produtiva de fábricas, fábricas vivas, chips, pílulas para tudo.

Temos de funcionar, não de viver. Por que tudo tão rápido? Para chegar aonde? A este mundo ridículo que nos oferecem, para morrermos na busca da ilusão narcisista de que vivemos para gozar sem parar? Mas gozar como? Nossa vida é uma ejaculação precoce. Estamos todos gozando sem fruição, um gozo sem prazer, quantitativo. Antes, tínhamos passado e futuro; agora, tudo é um "enorme presente", na expressão de Norman Mailer. E este "enorme presente" é reproduzido com perfeição técnica cada vez maior, nos fazendo boiar num tempo parado, mas incessante, num futuro que "não pára de não chegar".

Antes, tínhamos os velhos filmes em preto-e-branco, fora de foco, as fotos amareladas, que nos davam a sensação de que o passado era precário e o futuro seria luminoso. Nada. Nunca estaremos no futuro. E, sem o sentido da passagem dos dias, da sucessibilidade de momentos, de começo e fim, ficamos também sem presente, vamos perdendo a noção de nosso desejo, que fica sem sossego, sem noite e sem dia. Estamos cada vez mais em trânsito, como carros, somos celulares, somos circuitos sem pausa, e cada vez mais nossa identidade vai sendo programada. O tempo é uma invenção da produção. Não há tempo para os bichos. Se quisermos manhã, dia e noite, temos de ir morar no mato.

Há alguns anos, eu vi um documentário chamado Tigrero, do cineasta finlandês Mika Kaurismaki e do Jim Jarmusch sobre um filme que o Samuel Fuller ia fazer no Brasil, em 1951. Ele veio, na época, e filmou uma aldeia de índios no interior do Mato Grosso. A produção não rolou e, em 92, Samuel Fuller, já com 83 anos, voltou à aldeia e exibiu para os índios o material colorido de 50 anos atrás. E também registrou, hoje, os índios vendo seu passado na tela. Eles nunca tinham visto um filme e o resultado é das coisas mais lindas e assustadoras que já vi.

Eu vi os índios descobrindo o tempo. Eles se viam crianças, viam seus mortos, ainda vivos e dançando. Seus rostos viam um milagre. A partir desse momento, eles passaram a ter passado e futuro. Foram incluídos num decorrer, num "devir" que não havia. Hoje, esses índios estão em trânsito entre algo que foram e algo que nunca serão. O tempo foi uma doença que passamos para eles, como a gripe. E pior: as imagens de 50 anos é que pareciam mostrar o "presente" verdadeiro deles. Eram mais naturais, mais selvagens, mais puros naquela época. Agora, de calção e sandália, pareciam estar numa espécie de "passado" daquele presente. Algo decaiu, piorou, algo involuiu neles.

Lembrando disso, outro dia, fui atrás de velhos filmes de 8mm que meu pai rodou há 50 anos também. Queria ver o meu passado, ver se havia ali alguma chave que explicasse meu presente hoje, que prenunciasse minha identidade ou denunciasse algo que perdi, ou que o Brasil perdeu... Em meio às imagens trêmulas, riscadas, fora de foco, vi a precariedade de minha pobre família de classe média, tentando exibir uma felicidade familiar que até existia, mas precária, constrangida; e eu ali, menino comprido feito um bambu no vento, já denotando a insegurança que até hoje me alarma. Minha crise de identidade já estava traçada. E não eram imagens de um passado bom que decaiu, como entre os índios. Era um presente atrasado, aquém de si mesmo. A mesma impressão tive ao ver o filme famoso de Orson Welles, It's All True, em que ele mostra o carnaval carioca de 1942 - únicas imagens em cores do País nessa década. Pois bem, dava para ver, nos corpinhos dançantes do carnaval sem som, uma medíocre animação carioca, com pobres baianinhas em tímidos meneios, galãs fraquinhos imitando Clark Gable, uma falta de saúde no ar, uma fragilidade indefesa e ignorante daquele povinho iludido pelos burocratas da capital. Dava para ver ali que, como no filme de minha família, estavam aquém do presente deles, que já faltava muito naquele passado.

Vendo filmes americanos dos anos 40, não sentimos falta de nada. Com suas geladeiras brancas e telefones pretos, tudo já funcionava como hoje. O "hoje" deles é apenas uma decorrência contínua daqueles anos. Mudaram as formas, o corte das roupas, mas eles, no passado, estavam à altura de sua época. A Depressão econômica tinha passado, como um grande trauma, e não aparecia como o nosso subdesenvolvimento endêmico. Para os americanos, o passado estava de acordo com sua época. Em 42, éramos carentes de alguma coisa que não percebíamos. Olhando nosso passado é que vemos como somos atrasados no presente. Nos filmes brasileiros antigos, parece que todos morreram sem conhecer seus melhores dias.

E nós, hoje, nesta infernal transição entre o atraso e uma modernização que não chega nunca? Quando o Brasil vai crescer? Quando cairão afinal os "juros" da vida? Chego a ter inveja das multidões pobres do Islã: aboliram o tempo e vivem na eternidade de seu atraso. Aqui, sem futuro, vivemos nessa ansiedade individualista medíocre, nesse narcisismo brega que nos assola na moda, no amor, no sexo, nessa fome de aparecer para existir. Nosso atraso cria a utopia de que, um dia, chegaremos a algo definitivo. Mas, ser subdesenvolvido não é "não ter futuro"; é nunca estar no presente.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

História do Chapeuzinho Vermelho (Sobre Vários Ângulos da Imprensa)


COMO A IMPRENSA TRATARIA DE NOTICIAR A HISTÓRIA OCORRIDA COM
CHAPEUZINHO VERMELHO:


JORNAL NACIONAL
(William Bonner): 'Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um
lobo na noite de ontem...'.
(Fátima Bernardes): '... mas a atuação de um caçador evitou uma tragédia'.


PROGRAMA DA HEBE
(Hebe Camargo): '... que gracinha gente. Vocês não vão acreditar, mas
essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um
lobo, não é mesmo?'


BRASIL URGENTE
(Datena): '... onde é que a gente vai parar, cadê as autoridades? Cadê
as autoridades? ! A menina ia para a casa da vovozinha a pé! Não tem
transporte público! Não tem transporte público! E foi devorada viva...
Um lobo, um lobo safado. Põe na tela!! Porque eu falo mesmo, não tenho
medo de lobo, não tenho medo de lobo, não.'


REVISTA VEJA

Lula sabia das intenções do lobo.


REVISTA CLÁUDIA

Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho.


REVISTA NOVA

Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama.


FOLHA DE S. PAULO

Legenda da foto: 'Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador'..
Na matéria, box com um zoólogo explicando os hábitos dos lobos e um
imenso infográfico, mostrando como Chapeuzinho foi devorada, e depois
salva pelo lenhador.


O ESTADO DE S. PAULO

Lobo que devorou Chapeuzinho seria filiado ao PT.


O GLOBO


Petrobrás apóia ONG do lenhador, ligado ao PT, que matou um lobo pra
salvar menor de idade carente.

ZERO HORA

Avó de Chapeuzinho nasceu no RS.


AGORA

Sangue e tragédia na casa da vovó.


REVISTA CARAS

(Ensaio fotográfico com Chapeuzinho na semana seguinte.)
Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS: 'Até ser
devorada,eu não dava valor para muitas coisas da vida. Hoje sou outra
pessoa'


PLAYBOY

(Ensaio fotográfico no mês seguinte)
Veja o que só o lobo viu...


REVISTA ISTO É

Gravações revelam que lobo foi assessor de político influente.


G MAGAZINE

(Ensaio fotográfico com lenhador)

Lenhador mostra o machado.

SUPER INTERESSANTE

Lobo mau! mito ou verdade ?

terça-feira, 30 de março de 2010

Velhinha Sábia!


Uma senhora muito pobre telefonou para um programa de rádio pedindo ajuda.
Um bruxo, que ouvia o programa, resolveu pregar-lhe uma peça
Telefonou para a rádio e obteve seu endereço. Chamou seus "secretários" e
ordenou-lhes que fizesse uma grande compra e levassem para a mulher, com a
seguinte orientação:
Quando ela perguntar quem a estava presenteando, eles deveriam responder o
diabo.
Eles foram e a mulher os recebeu com alegria e foi logo guardando os
alimentos na sua prateleira, mas não perguntou quem lhe havia enviando.
Os "secretários" do bruxo, sem saber o que deveriam fazer, provocaram a
pergunta: - A senhora não quer saber quem lhe enviou estas coisas?
A mulher, na maior simplicidade da sua fé, respondeu: - Não, meu filho.
Não é preciso. Quando Deus manda, até o diabo obedece!

Quando a Tradução Vira Complicação


Luiz Sayão*

A língua portuguesa é uma das mais bem servidas em traduções bíblicas. Tanto no contexto protestante como no contexto católico multiplicam-se as versões das Escrituras Sagradas. A maioria dos evangélicos brasileiros afirma usar a versão “Almeida”. Todavia, poucos têm a noção de que temos pelo menos 9 versões de Almeida em português. Temos a versão Corrigida antiga, a Corrigida 2ª edição (SBB), as versões Atualizadas (1ª e 2ª edição), a Revisada (IBB-Juerp), a Corrigida de 1997 (IBB-Juerp), a Corrigida Fiel (SBT), a Versão Contemporânea (Vida) e a Almeida 21 (Várias editoras). Além disso, temos outras versões completas: Bíblia em Português Corrente (Portugal), o Livro (Portugal), Bíblia na Linguagem de Hoje, Nova Tradução na Linguagem de Hoje e Nova Versão Internacional (NVI).

Em meio a tantas alternativas, a tradição, a inovação e a mera preferência passional podem obliterar a visão correta da realidade. É absolutamente necessário afirmar que o consenso evangélico é que o texto bíblico tem total autoridade, sendo inspirado verbal e plenamente. Mas é importante dizer que o texto padrão é, e sempre será, o texto original escrito em hebraico, aramaico e grego. Toda tradução das Escrituras é uma tentativa de expressar o texto original. Tais tentativas possuem méritos e deméritos, que devem ser observados de modo imparcial e objetivo. Assim, esse artigo pretende desmistificar a idéia de que existem traduções perfeitas e fomentar o interesse pelo estudo da Bíblia nas línguas originais.

As diversas versões bíblicas possuem, em sua grande maioria, mais méritos do que deméritos. No entanto, alguns textos estão de fato mal traduzidos e precisam de maior atenção em futuras revisões. Vejamos alguns exemplos pertinentes.

Quem abre a Bíblia em Jeremias 48.11 na versão Atualizada ficará perplexo e confuso: “Despreocupado esteve Moabe desde a sua mocidade e tem repousado nas fezes do seu vinho; não foi mudado de vasilha para vasilha, nem foi para o cativeiro; por isso, conservou o seu sabor, e o seu aroma não se alterou.”

Longe de ter qualquer conotação “sanitária” o texto fala de “fezes” no sentido arcaico e não popular. Aqui a palavra significa “borra” ou “resíduos”. Moabe, como o vinho, nunca passou de vasilha para vasilha para ser purificada. Esse é o foco do versículo. Todavia, o leitor comum sofrerá para entender o texto.

Uma das versões recentes, muito defendida por alguns grupos, apresenta problemas sérios em Tiago 1.2. Veja a opção de tradução da versão Corrigida Fiel: “Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações”. Embora reflita o grego literal, o sentido pretendido pelo autor desaparece. Um novo convertido ao ler o versículo assim traduzido pode achar que cair em tentação é motivo de alegria. Longe disso, o texto de Tiago quer ensinar que devemos ter muita alegria quando enfrentamos provações. A tradução é inadequada.

Quem lê Levítico 13.29 na maioria das versões antigas ficará assustado: “E, quando homem ou mulher tiver chaga na cabeça ou na barba”. Como pode uma melhor ter chaga na barba? Existiam mulheres barbudas na Bíblia? É claro que não. A palavra hebraica aqui usada refere-se também à parte inferior do rosto. Portanto, o sentido correto aqui é queixo ou rosto. Os leitores devem colocar “a barba de molho”.

O texto de Oséias 4.12 certamente precisa de clareza na versão Revisada. Diz o texto: “O meu povo consulta ao seu pau, e a sua vara lhe dá respostas, porque o espírito de luxúria os enganou, e eles, prostituindo-se, abandonam o seu Deus.” A maioria dos leitores ficará confusa com o sentido de “pau” e “vara” aqui. Seriam instrumentos de correção? Ou de autoridade? O enfoque do texto é idolatria. Oséias fala de ídolos de madeira. A tradução deve ser melhorada.

Todavia, há certos problemas de tradução que podem até trazer complicação teológica para o leitor. Quem lê Deuteronômio 32.8 na NTLH e compara com outras versões ficará pensativo e perplexo: “Quando o Altíssimo separou os povos e deu a cada povo as suas terras, ele marcou as fronteiras das nações, dando a cada uma o seu próprio deus.” A tradução, baseada numa exegese discutível, sugere que o Deus de Israel deu às nações pagãs os deuses aos quais cultuavam. A tradução da ARA reflete o consenso entre as versões: “Quando o Altíssimo distribuía as heranças às nações, quando separava os filhos dos homens uns dos outros, fixou os limites dos povos, segundo o número dos filhos de Israel.”

Talvez o exemplo de equívoco teológico mais impressionante já feito em português foi o da Bíblia de Jerusalém. Ao traduzir Romanos 12.1, que diz: “Portanto, irmãos, exorto-vos pelas compaixões de Deus que apresenteis o vosso corpo como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus ...” A BJ trocou “sacrifício vivo” por “óstia”, introduzindo um elemento da teologia e prática católica, completamente estranho ao texto original!

O leitor acostumado à versão Corrigida antiga não faz idéia das dificuldades de vários versículos traduzidos de modo inadequado. Quem lê Gênesis 39.1 pode entender a história de José de modo totalmente equivocado: “E JOSÉ foi levado ao Egito, e Potifar, eunuco de Faraó, capitão da guarda, varão egípcio, comprou-o da mão dos ismaelitas que o tinham levado lá.” Imagine só! Potifar era eunuco! Como poderia ele ser eunuco e casado ao mesmo tempo? Alguém até poderia pensar que a mulher de Potifar teria procurado José devido à imperfeição física de seu marido! A tradução não reflete o original. Potifar era um alto oficial de Faraó e não um eunuco.

Nem mesmo a Nova Versão Internacional escapa de problemas e imperfeições. O texto de 1Coríntios 9.6 foi mal traduzido e confuso, e precisa de revisão: “Ou será que só eu e Barnabé não temos o direito de deixar de trabalhar para termos sustento? A versão literalista da Corrigida está melhor: “Ou só eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar?”

A recém-lançada versão Almeida Século 21 tem sido muito bem recebida. Mas, suas falhas também já aparecem. Quem lê João 2.1, estranhará o elemento geográfico inesperado no texto: “Três dias depois, houve um casamento em Canada Galiléia. E a mãe de Jesus estava ali”. Em vez de dizer “Caná da Galiléia”, o texto faz referência a Canada (que será lido Canadá!). O erro precisa ser reparado.

Como vemos, a imensa tarefa de tradução bíblica não é nada fácil. Muitas vezes, uma tradução de um texto vira complicação. É preciso valorizar o esforço de cada projeto de tradução, entender suas principais qualidades e suas imperfeições. As revisões e ajustes sempre serão necessários e importantes. É preciso ver os fatos com isenção e sem preconceitos. Todas as versões devem ser estudadas e comparadas. Afinal, a verdade é que perfeito é somente o próprio Deus, e o texto por ele inspirado no original.

*Luiz Sayão
Teólogo, hebraísta, escritor e tradutor da Bíblia. É também professor da Faculdade Batista de São Paulo, do Seminário Servo de Cristo e professor visitante do Gordon-Conwell Seminary.